Wednesday, June 08, 2011

Mães em rede - Mães diferentes no mesmo endereço - Mães em rede: O Globo

Mães em rede - Mães diferentes no mesmo endereço - Mães em rede: O Globo

(Amei este artigo, e aqui quero muito compartilhar com o mundo!)

Etiqueta da adoção

Ola blogueiras amigas. Miguel ja fez 2 meses (tem um mês e pouco conosco) e todos os dias penso em sentar aqui e escrever para vocês. São tantas novidades nesse comecinho, ne? Para mim, é uma emoção completamente nova ser mãe de alguém já tendo outro filho de 3 anos na casa. Ver esse amor de irmãos nascer, me sentir inúmeras vezes dividida entre os dois (sem tempo para nada) e comprovar na pele aquela velha piadinha de que um filho é um e dois filhos são pelo menos 5! Acreditem, assunto não falta e daria para lotar esse blog só com Miguelzices e Bobzices.
Mas felizmente esse blog não é para corujar os meus pequenos e, sim, para discutir alguma coisa de interesse público! Então venho amadurecendo um tema para conversar aqui: a etiqueta da adoção. Acho que vale dar um toque não para quem quer adotar, como eu fiz, mas para quem apenas convive com adotados. E, como não são poucos, acho que o tema pode ajudar e interessar a mais gente. Juro que não estou legislando em causa própria.
Desde que o Miguel nasceu o tema da adoção voltou ao bate papo da minha vida com intensidade total. Invariavelmente, todas as pessoas que visitaram o Miguel perguntaram alguma coisa sobre ele e o processo. Amigos e familiares fizeram comparações — mais do que naturais — entre a historia dele e do meu primeiro filho, Roberto. Teve muita gente também que se aproximou de mim exatamente para saber como adotar e que passos dar. Outras amigas que ainda estao à espera vieram até aqui para curtir o momento e sonhar com a sua vez. Com tudo isso, o que ja era um tema IMPORTANTíSSIMO para o Roberto virou o assunto mais sensível do mundo. Ele pode estar lá do outro lado da casa, distraido com seus brinquedos, que se alguém fala a palavra adoção, advinha quem aparece na sala?
Comecei, então, a reparar que a linguagem é fundamental. Deve existir, sim, uma certa etiqueta para falar desse tema, principalmente na frente de crianças. Sou a favor da transparência e Roberto sabe que não nasceu da minha barriga, que nós o buscamos. Ele, inclusive, foi buscar o seu irmão. Mas Isso não significa que a gente possa falar na frente dele termos como "a mãe do Roberto e a mãe do Miguel" (se referindo às respectivas mães biológicas, quando falamos algum detalhe do processo de adoção). Ou algo do tipo "Ela entregou" ou "Ela não quis" ou "Ela abandonou". Uma amiga querida, por pura distração (é super gente fina, adoro, mas completamente avoada), comentou sobre alguém que ela ouviu falar que queria entregar seu filho. Ai veio o comentário na frente de crianças: "Como é que pode? Parece que ela está dando um cachorro".
Eu sei que não foi por mal. Pessoas que não são, digamos, desse universo, não frequentam Café com Adoção, nem estão envolvidas com a causa nem percebem que as palavras às vezes tem uma carga forte. Outro dia, viajando com a família, conheci um casal super simpático que encheu de elogios os meus filhos. Quando soube que eles eram adotados, a pessoa que eu mal acabara de conhecer falou: "Eu pensei que eles eram seus". Respondi que são, sim, meus. Muito meus. Aí ela respondeu: "Como assim seus? você fez barriga de aluguel?". Gente, o fato de não serem da minha barriga significa que não são meus? Não fiquei chateada, a pessoa não falou por mal. A adoção causa esse constrangimento, esse momento de "ops, caramba, por essa eu não esperava". E as novelas não ajudam na medida que vemos em capítulos decisivos a mocinha ouvindo da pessoa que a criou revelando em tom grave: "eu não sou sua mãe!" (me lembro de Paraiso Tropical... a personagem da Suzana Vieira dizendo essa exata frase para a personagem da Alessandra Negrini!).
Por outro lado, acho que não dá para poupar o Roberto desse assunto mesmo. Ele é forte demais e toda hora surge mesmo, mesmo que a gente tente filtrar ou medir as palavras! Fui numa festa esse sábado e conheci uma moça com uma filhinha de 5 anos, também adotada. Nós já nos conhecíamos de nome e, quando nos vimos, ela imediatamente avisou a sua filha: "Veja, o Roberto é como você, também não é filho da barriguinha não, é do coração. Vem aqui conhecer o Miguel. Olha que maravilha que Papai do Céu mandou para a casa da Tia Germana." Nâo deu nem tempo de combinar algo entre nós duas, ela saiu contando. A filha dela é mais velha, ela já deve fazer isso há mais tempo. Achei legal a naturalidade. Mas também é importante ressaltar que a linguagem usada por ela é COMPLETAMENTE cuidadosa e amorosa.
Só finalizando (esse post está enorme!), meu marido me ligou todo emocionado do Ceará, onde estava viajando a trabalho, contando que esteve em vários lugares onde estivemos quando fomos adotar o Roberto. A mesma pizzaria, o mesmo hotel, etc. Mas ele contou só para mim e não para o Roberto. Pedi que contasse ao filho, sempre com um sorriso no rosto, que esteve lá onde a gente foi buscar ele, no lugar lindo de onde ele veio e mudou a nossa vida. Mas meu marido é mais fechadão e o papo entre os dois acabou não acontecendo. Como se vê na adoção, escolher as palavras é complicado seja para falar demais ou de menos...
Um beijo e até breve.